As bem aventuranças introduzem o que chamamos de “sermão do monte” conforme Mateus, do capítulo 5 até 7. A multidão que cercava Jesus por ocasião da entrega deste sermão era consideravelmente grande, mas o Senhor se dirigiu aos seus seguidores que formava um grupo insignificante. Esse sermão é marca de inauguração para uma nova era na convivência entre Deus e seu novo povo redimido pelo sangue da cruz de Cristo.
As palavras de Jesus que compõem esse sermão são dirigidas diretamente à mente e coração de cada discípulo. Por isso o Senhor reservou um espaço junto a si para aqueles que estavam dispostos a segui-lo. O ensino do “sermão do monte” é pessoal e intransferível. Não é dirigido a um povo religioso que segue uma tradição religiosa que passa de pai para filho e de geração para outra geração. É, antes, um apelo para uma decisão pessoal, um chamado para uma proposta de novo começo nas relações entre Deus e os homens.
Até o dia em que Jesus subiu ao monte para ensinar seus seguidores, o povo de Israel seguia antiga tradição religiosa fundamentada na Lei de Moisés, nos Estatutos e nos Juízos conforme Deuteronômio 30.15, 16. Agora, com as palavras do “sermão do monte” está quebrado o elo das tradições familiares e nacionais e abre-se o novo tempo da relação pessoal entre Deus e o homem. Antes, com o pecado do povo, toda a nação sofria consequências de morte, perdas, derrotas e vergonha. Agora, a promessa é de um relacionamento seguro, sem maldições, perdas, morte ou quaisquer outros danos, conforme Romanos 8.1-4 e 31-39. Antes a nação era vista religiosamente fundamentada na letra morta da Lei. Agora, Deus vê o homem, seja ele quem for, esteja onde estiver pelo ângulo da fé e pelo modo como este “crente” obedece a palavra do Eterno conforme os textos do Antigo Testamento e do Novo Testamento. Antes o Eterno chamava uma nação pelo seu nome, agora chama o homem pelo nome e por meio de seu Filho amado. Nisto entendemos que nenhuma tradição ou prática religiosa une o ser humano a Deus, mas quem tem esse poder é Jesus.
No “sermão do monte” Jesus apresenta uma ruptura entre o passado e o presente e faz uma proposta para um novo relacionamento entre Deus e o pecador, independente de templos, liturgias sacrificiais, festas religiosas e tradições repetitivas. Agora, pela fé na palavra de Deus, a verdade eterna, Jesus, todos os redimidos tem acesso à santidade divina onde quer que estejam. A criação de lugares especiais de culto, construções de templos, salões e liturgias especiais é humana e faz parte do trauma do homem pecador que acha que tem de fazer algo para agradar a santidade de Deus. Todas essas coisas tem sua importância, mas nada significam diante do plano eterno de redenção que o Pai propôs em seu Filho amado. O “sermão do monte” serviu para mostrar que o novo e eterno templo de Deus é o próprio Cristo em quem e por meio de quem o pecador redimido se aproxima da divindade sem traumas e medos, cf I João 4.17-19.
Conclui-se que o “sermão do monte” é essência do evangelho da graça e seu ensino deve fazer parte da convivência entre os fiéis e seu Deus e entre irmãos que professam a mesma fé em Jesus. Essa convivência diária entre Deus e seus filhos e de cada cristão com seu próximo não se fundamenta em religiosidades conforme aprendemos na tradição cristã. A verdadeira comunhão está fundamentada na pessoa de Jesus Cristo que se tornou o único mediador entre o Pai e os homens, conforme testemunho dos apóstolos nos tempos antigos, encontrado no livro dos Atos 4.9-12 e outros textos.
A postura de muitos cristãos em abandonar o estudo e a prática dos ensinos do “sermão do monte” se deve, talvez, pelo caráter ético dele caracterizado por uma mudança de mente e de coração. Praticar os ensinos do sermão exige transformação interior e expressão de vida que mostre essa transformação. Ser humilde no espírito, manso no relacionamento diário com as pessoas, limpo de coração, etc, são expressões de vida que só serão conhecidas em pessoas transformadas pelo poder de Deus. Convidamos você a ler as bem aventuranças de Mateus 5.1-12, aprendam suas lições e procure praticá-las diariamente.
Jair Alvares Pintor
(1941 – 2014)
Pastor e Professor | Diretor do IBB Seminário