No livro de Gênesis vemos que o Senhor, em seu eterno e insondável plano de amor, decidiu criar o homem do “pó da terra” ou, no sentido literal do “barro”, à sua imagem e semelhança.
Deus nos esculpiu macho e fêmea e, através de sua expiração, nos concedeu a capacidade de respirar, tornando desta forma o barro esculpido que respira em “alma vivente” ou, no original hebraico nefish e no original grego psiquê. Desta forma, o homem ganhou de Deus sua mente, personalidade, a capacidade individual de ser, o temperamento, seu estilo e maneira de agir. O barro ganhou contornos humanos, ganhou um espírito e se tornou um ser inteligente.
Deus se alegrou com a obra que fez…
Como o ser criado tinha inteligência para compreender, tinha também capacidades cognitivas, como nomear animais e frutos. Entre outras coisas, possuía capacidade afetiva, como sentir solidão, por isso, o Eterno Deus criou regras para que o homem fosse bem em sua tarefa de viver bem. Uma regra, uma clausula pétrea, era não comer do fruto da árvore do “bem e do mal”, caso contrário, o homem iria saber o que era o mal e viver mal.
Contudo, no local da Criação perfeita de um Deus plenamente amor, que gerou o homem em suas entranhas de plena bondade, havia um sabotador e aliciador, já decaído por ter sido julgado culpado pela intenção de tomar o trono de Deus e cuja única intenção era degradar a grande obra de Deus e fazer o homem tropeçar em seu próprio passo.
A intenção de assistir a queda do homem, infelizmente se concretizou…
O barro que foi esculpido à semelhança e imagem de Deus, que tinha o fôlego do próprio Deus ventilando em seus pulmões, que o fez inteligente e afetivo, agora é caído e experimenta o mal em todo seu ser, por ter descumprido a clausula pétrea. Queda em todos os sentidos: na relação com Deus, na moradia do Paraíso, na fecundação (agora a queda passaria para seus descendentes, por isso se cobriram da nudez), na inteligência (que agora tem implantado o mal).
Os efeitos da queda não se comparam a nenhum terremoto da maior magnitude, nem a tsunamis mais devastadores, nem à queda de meteoritos sobre o planeta. A queda do homem abalou os céus, a relação Criador-criatura não podia mais ser feita de forma direta e pessoal.
Foi quando surgiu a necessidade de um mediador, o sangue.
Como os efeitos da queda são transmitidos aos descendentes, o homem caído inventou uma solução por conta própria, a folha da figueira para cobrir as fontes da descendência, ou seja, os órgãos sexuais. O homem caído ainda não tinha se dado conta, apesar da inteligência, que a “pequena” rachadura que haviam iniciado ao não seguir as regras iria se abrir cada vez mais e mais, até gerar o abismo entre nós, herdeiros do homem caído e o Senhor.
Por isso Deus, em sua Onisciência, conhecendo o destino do homem caído e o abismo que se desenvolvera entre nós e Ele, derramou o sangue de um animal sobre a terra, para que com a pele deste costurasse um avental digno de cobrir as genitálias deste homem caído. Era um curativo, se é que se pode chamar assim, provisório, até que a cura definitiva pudesse acontecer. Cura, no sentido original grego, soteria, é, em bom português, Salvação.
Por causa da descendência do homem estar contaminada pela queda, a forma de adorar levou ao primeiro homicídio, daí a queda foi aumentando de magnitude a ponto de levar o ser humano a viver sempre próxima ao caos: pessoal, sexual, familiar, psicológico, social, religioso, afetivo, erótico, político, ecológico, entre tantos; em cada era da humanidade, desde a mais remota até a mais recente…
O caos…
O Deus empolgado em criar seu ser mais próximo, nós, teve que dar lugar a um Deus gracioso e que, apesar de ser justiça, nunca deixou de ser amor. Por Graça, Deus enviou seu próprio Filho como Salvador de nossas vidas, de nossas mentes ou almas. A tarefa do Filho era difícil, apesar de ter 100% da natureza divina herdada de Deus, teria que viver apenas dos 100% da natureza do homem caído herdada de Maria. Por isso, Ele foi tentado em todas as tentações que qualquer um de nós é tentado, mas não cedeu.
Prevaleceu!
Mas não bastava só isso, o sangue do Filho teria que se misturar ao barro do homem caído, para curá-lo e descontaminá-lo.
Na cruz, o sangue do Cordeiro desceu pelo madeiro e encharcou a terra de perdão, de graça, de misericórdia, de religação com o Pai, de segunda chance, de vitória contra o adversário, de capacidade de resistir ao mal, de garantia da ressurreição, de vida eterna!
A Santa Ceia figura exatamente isso, através dos elementos do pão e do vinho, que celebramos em memória até que o Senhor venha nos resgatar,
…e o sangue de Jesus se mistura ao barro que somos…
Sérgio Máscoli | Pastor e Professor | IBB Seminário
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