Há histórias comoventes em todas as áreas da convivência humana. Ultimamente as histórias se repetem. São crianças mortas em escolas no Rio de Janeiro, na França e nas guerras da África; Jovens morrem nas faculdades, ruas ou em casa com balas perdidas; são moças estupradas e estranguladas dentro de seus lares etc. Quantas famílias de luto e chorando. Quanta mágoa e dor de mães que sequer puderam dar um abraço no filho amado antes dele partir.
A história que narro aqui inclui pais que choraram também. E é comovente não só porque os pais choraram, mas porque travaram uma batalha. É comovente não porque batalharam sozinhos, mas porque são parte de um batalhão de pais que lutam e choram por seus filhos a cada dia.
É a história do Clovinho, segundo filho do Pastor José Clóvis e sua esposa Martinha. O Clovinho adquiriu, segundo informações, paralisia cerebral no processo do parto. Depois de alguns meses constatado o trauma, começou a luta em favor do menino. Família pobre, levava a irmã Martinha, com o filho nos braços e sacolas penduradas, a enfrentar ônibus lotados, muitas vezes sem o obséquio de um lugar para se assentar. Era a cidade do Recife. Nestas alturas já não era pequeno o número de pessoas envolvidas na luta em favor do Clovinho, ajudando de alguma maneira ou orando e clamando a Deus por sua cura.
Depois do Recife, Brasília. A irmã Jamile, esposa do pastor Sérgio, conseguiu tratamento para Clovinho nos hospitais de Brasília. Para lá foram pai, mãe, a filhinha mais velha Claudia e o pequeno Clóvis. Nesta altura dos acontecimentos, a mãe de Clovinho se encheu de esperanças, mas os fisioterapeutas não animavam muito. Ela orou e se lembrou das palavras de Jesus: “Não andeis ansiosos pela vossa vida…”. Foi o mesmo sentimento do salmista quando cantou: “Esperei confiantemente pelo Senhor; Ele se inclinou para mim e me ouviu quando clamei por socorro”.
Depois de Brasília, Rio de Janeiro. Os irmãos pastor José Clóvis e Martinha lutavam incansavelmente pelo filho e descobriram um curso que ajudava pais com filhos com esse trauma. Não havia dinheiro para pagar a passagem. Começaram a vender roupas e separar um lucrinho para cobrir as despesas. Vieram ajudas de várias partes e eis que chegaram ao Rio, se hospedaram na casa da irmã Maria. As viagens para os hospitais dependiam de trens e ônibus lotados. Lá estavam os pais com a criança agarrada ao colo. Terminaram o curso e aprenderam como lidar com a enfermidade do menino.
Do Rio para São Paulo. Um colega de ministério pastoral convidou o pastor Clóvis para auxiliá-lo numa igreja em formação na cidade de São Paulo. Novas esperanças brotavam nos corações dos pais do Clovinho. Afinal, São Paulo é o maior centro de atendimento para pessoas traumatizadas por enfermidades graves. Os médicos de São Paulo concluíram que nada mais poderia ser feito porque o Clovinho estava com dez anos… Tudo o que podia ser feito estava em andamento com a fisioterapia. Sugeriram que os pais voltassem para o Recife, onde o clima ajudaria, pois São Paulo entrava nos dias mais frios do ano. Voltaram para o Recife, onde o pastor Clóvis serviu como auxiliar numa igreja.
No Recife o Clovinho teve uma piora acentuada em seu quadro. Foi para a UTI e lá ficou por vários dias, contraindo bactérias, fazendo-o sofrer mais. Para os pais a luta continuava, e não parava de aumentar o batalhão dos que favoreciam de alguma maneira a família do pastor. Depois de algum tempo Clovinho saiu do hospital. O tratamento continuou em casa. Médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, fonoaudiólogos e auxiliares visitavam o Clovinho na luta por uma melhora e pela sua sobrevivência semanalmente.
No dia 7 de setembro de 2007 Clovinho teve uma hemorragia e faleceu no dia 9 do mesmo mês. Sua mãe registrou: “A dor de ter um filho é uma dor que é esquecida em pouco tempo pela alegria de ver o bebê. A dor da perda de um filho não é esquecida, porque é uma dor da alma, uma angústia que só sabe quem já sentiu, é um sofrimento do qual não podemos fugir, não podemos calcular a dor de uma perda como essa”. Assim, a história comovente da curta vida do Clovinho fala da luta de uma família que soube confiar em Deus. Essa família recebeu incontáveis bênçãos por meio de ofertas, favores, orações e apoio de um batalhão valoroso de pessoas de boa vontade. Quando os pais tinham tudo para desistir, o Senhor os encheu de vigor e de esperança.
A história de vida dos pais do Clovinho é a mesma de centenas de pais espalhados por esse Brasil afora, com filhos nos braços, dentro de conduções lotadas, cheios de esperança e de amor. São valentes que nenhum poeta dedicará uma canção, mas estão aí, pelas grandes e pequenas cidades brasileiras lutando em favor de alguém a quem amam. Felizes são esses Clovinhos cercados de amor e atenção por pais abnegados e dedicados. Que Deus abençoe a família brasileira e enxugue as lágrimas de pais que choram por seus filhos. Esta é a nossa oração.
Pastor Jair Alvares Pintor
(escrito em maio/2012)